sexta-feira, 6 de abril de 2012

POST 1460: AFINAL, EMPREENDEDORISMO SE ENSINA?

Como profissional na área de educação de empreendedorismo e professor universitário em cursos de graduação e pós-graduação, com mais de dez anos de experiência, me considero apto a responder essa pergunta tão frequente entre alunos postulantes a seguir o empreendedorismo como possibilidade de carreira.

Todas as vezes em que me questionam isso, eu devolvo a pergunta para eles: “O que vocês acham? É possível aprender a ser empreendedor ou o empreendedor já nasce pronto?” Embora as opiniões se dividam de forma proporcional, a conclusão geral dos alunos é que parte das competências pode ser aprendida, mas algumas características são inatas. Isso é verdade?


Para responder isso, é preciso saber, antes de mais nada, se existem características específicas do empreendedor. Vamos tomar alguns exemplos: facilidade de relacionamento é uma dessas características que, por unanimidade, é sempre eleita como fundamental em um empreendedor. Isso significa que pessoas introvertidas não podem ser empreendedoras? Posso citar vários exemplos de nerds da internet que se tornaram milionários com suas inovações. Você mesmo deve conhecer alguns.

Está bem, vamos tentar novamente: criatividade. Outra unanimidade. É indiscutível que pessoas criativas identificam oportunidades com mais facilidade e geram mais inovações também. Quem não tem boas ideias não pode empreender certo? Bem, da mesma forma, posso citar uma centena de exemplos de empreendedores que se tornaram bem-sucedidos com ideias que outros tiveram.

Vou parar por aqui porque essa discussão não leva a nada. Estudos acadêmicos já abandonaram esse debate e admitiram que não existe um perfil empreendedor, ou seja, não é possível elencar atributos que sejam obrigatórios para o sucesso. Portanto, a primeira lição sobre o ensino de empreendedorismo é que a falta de alguma característica inata não impede a pessoa de ser um grande empreendedor.

A segunda parte da resposta está no que pode e no que não pode ser ensinado. Para algumas coisas não há dúvidas. Técnicas, ferramentas, conhecimento, habilidades, tudo isso pode ser aprendido em aula. Por isso, tantos empreendedores fazem cursos de gestão de negócios, planejamento financeiro, técnicas de apresentação, pesquisa de mercado etc. Esse é o argumento principal de quem defende que empreendedorismo é “ensinável”. E eles estão certos.

A coisa não fica tão clara quando falamos das competências e comportamentos. Voltemos ao exemplo do relacionamento interpessoal. Embora saibamos que, desde crianças, algumas pessoas possuem mais facilidade de se relacionar do que outras, o que nos leva a crer que se trata de uma característica inata, é também indiscutível que as pessoas podem aprender a se relacionar melhor. Bem, não vão se tornar o super simpático e carismático do mundo, mas poderão melhorar essa competência a ponto de não ser algo que venha a atrapalhar o empreendedor. O que quero dizer aqui é que mesmo competências podem ser aprendidas com o domínio e o exercício de técnicas específicas.

Relacionamento interpessoal, como a criatividade, não são atributos exclusivos do empreendedor. Apesar de existirem técnicas próprias para estimulá-los, a verdade é que algumas pessoas não se julgam capazes de desenvolvê-los. Como muitos tentam, mas não conseguem aprender, acreditam que são características inatas. A verdade é que essas e outras características, como liderança, memorização, visão holística e tomada de decisão, são desenvolvidas ao longo da nossa vida, por meio de experiências que vivenciamos em situações corriqueiras e inerentes às atividades que tenhamos feito no passado.

Dependendo dos estímulos que você teve na sua vida, você pode ter tido mais ou menos oportunidades para formar essas competências. Algumas delas se desenvolvem melhor em determinadas etapas da vida, podendo começar inclusive na nossa tenra infância. É possível desenvolvê-las na atual fase de vida? Sim, porém com dificuldades maiores na medida em que nos tornamos mais maduros e, consequentemente, mais rígidos e inflexíveis para nos livrarmos de hábitos antigos e incorporarmos os novos.

Podemos concluir, então, que empreendedorismo se ensina, sim, mas quanto mais cedo, melhor. Mais cedo não é quando a pessoa resolve se tornar empreendedor. Mais cedo significa criança, talvez até bebê, com técnicas que provocam o uso dessas competências e favorecem o aprendizado a partir das experiências práticas. Assim, qualquer um pode aprender a empreender. As pessoas podem fazer cursos, ler livros, assistir a palestras, navegar na internet e explorar qualquer forma de aquisição de conhecimento. Também podem buscar viver situações que despertem e desenvolvam certas competências e treinar algumas técnicas específicas para esse fim. Por último, se não houver como desenvolver alguma característica que seja importante para o empreendedor para determinado momento do seu empreendimento, tudo bem, porque sempre será possível compensar essa falta com alguma outra característica no qual você é forte.

 

Marcos Hashimoto
É professor de empreendedorismo da ESPM, consultor e palestrante
FONTE: PEGN 

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